Sunday

all i want for christmas is this


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natal é chegar a casa e ouvir a música que sai do piano do meu pai e sentir o cheiro dos cozinhados da minha mãe. é cortar a franja à minha irmã e rirmos com os penteados que imaginamos fazer. é jantarmos os quatro juntos e sairmos para a já tradicional visita às iluminações de lisboa.
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natal é os anos da j., é estarmos as quatro juntas a rir como quando éramos pequenas, é o calor daquele quarto que conheço tão bem como se fosse meu, é os anos passarem e continuarmos como irmãs.
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natal é um carioca de limão num anoitecer de domingo, em frente àquela praia que conhecemos tão bem: luvas e gorros, sorrisos e gargalhadas, os amigos de sempre.
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afinal ainda não perdi o espírito natalício. boas festas a todos!

Tuesday

the sweetest thing


no comboio, uma senhora entra e senta-se, pousando a mala em cima do colo. o senhor que está em sua frente repara no porta-chaves do obélix, pendurado no fecho da mala daquela senhora tão bem-posta, e não consegue evitar um sorriso. a senhora apercebe-se da situação e, com um sorriso franco e bem-disposto, comenta: "é parecido comigo, assim, rechonchudinho". o senhor responde prontamente e com uma sinceridade desarmante: "por favor, a senhora é tão bonita!". é então que se instala um constrangimento simplesmente encantador, visível nas suas faces coradas, e disfarçado com sorrisos atrapalhados.

uma autêntica pérola quotidiana.

Saturday

actress


e depois há o tempo que passa. há as coisas que não consigo fazer. há o entusiasmo da semana e o vazio que se lhe segue. há as frases que não escrevo, as músicas que não ouço, as imagens que não gravo. há isto que não conheço em mim, isto que ora me anestesia, ora me sufoca, isto que cresce todos os dias, isto que me rouba o que sempre tive, isto que me transforma naquilo que não quero ser.

Monday

menos que nada


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

Tuesday

and you held your head high



ontem: uma voz inconfundível, boas canções tocadas por quatro músicos excelentes, um baixista muito cool, a aula magna rendida. a ovação do público foi uma constante, desde os sucessos garantidos (como love vibration) até às surpresas muito agradáveis (como his majesty rides ou middle school frown), e foi, de facto, merecida. hollywood bass player abriu um espetáculo marcado por uma coerência e força impressionantes; mesmo aquelas músicas que não impressionam no CD ganharam outra dimensão ao vivo. a posição mais retraída de josh rouse não prejudicou a noite, afinal de contas o rapaz estava doente e até pediu desculpas. além disso, se da boca do cantor não saíram muitas palavras para o público, todo o seu corpo falava enquanto tocava, mostrando que, apesar da doença, ninguém lhe tira o prazer de tocar ao vivo. e que bem que ele toca.

Wednesday

nova casa

a todos os interessados:

http://www.quandoasluzesseacendem.blogspot.com

não veio substituir nada. é como uma casa de férias.

Thursday

mazurka

o jantar com a lisboa adormecida ao fundo, percorrer os caminhos do bairro alto em busca dos loucos e sonhadores da cidade (descobrir que estão de férias), um copo de vinho, divagações pelas memórias do passado, pelas angústias do presente, pelos sonhos do futuro, nós, sempre nós, juntas, o vento frio que não conseguiu vencer o calor que me deixaste.

quando todos vão dormir, é mais fácil desistir



Clementine: Joely?
Joel: Yeah Tangerine?
Clementine: Am I ugly?
Joel: Uh-uh.
Clementine: When I was a kid, I thought I was. I can't believe I'm crying already. Sometimes I think people don't understand how lonely it is to be a kid, like you don't matter. So, I'm eight, and I have these toys, these dolls. My favorite is this ugly girl doll who I call Clementine, and I keep yelling at her, "You can't be ugly! Be pretty!" It's weird, like if I can transform her, I would magically change, too.
Joel: You're pretty.
Clementine: Joely, don't ever leave me.
Joel: You're pretty... you're pretty... pretty...

Wednesday

em repeat #2



She stands stark naked and she beckons you to bed
Don't go, you'll only want to come back again.

Saturday

5.30


precisava absolutamente de ter a certeza. agora que a tenho, não sei o que fazer com ela.

Sunday

how do i always wake up here?


vejo os dias cinzentos a aproximarem-se; ouço o som do vento frio ao fundo; pressinto a queda eminente das lágrimas da chuva; sinto-me a arrefecer, dia após dia.

do you jive?


Curt: We set out to change the world... ended up just changing ourselves.
Arthur: What's wrong with that?
Curt: Nothing, if you don't look at the world.

Friday

retalhos de uma semana


#1 trivialidades e confidências trocadas à sombra de uma àrvore de jardim. a dose de tranquilidade de que necessito para conseguir correr sem me cansar.
#2 a this mess we're in em repeat na minha cabeça.
#3 começar a descobrir como os meus preconceitos estavam errados: o prazer em ser supreendida por alguém.
#4 sentir-me posta à prova constantemente, a adrenalina a correr nas veias. algumas crises de confiança, mas vontade ainda maior de ser capaz.
#5 encontrar, por fim, o tema que procurava. a cabeça a fervilhar de ideias, de projectos.
#6 tentar assimilar aquela conversa, naquele bar.
#7 o sol que se esconde cada vez mais cedo: tentar guardar para mim o calor dos últimos raios dourados de fim-de-tarde.
#8 uma pergunta inocente que iluminou o meu dia.
#9 momentos demasiado apressados passados com pessoas que fazem demasiada falta nos meus dias.
#10 ser confrontada com a vulnerabilidade daqueles que considero imbatíveis. ver-te, assim, debilitado, com medo. ter muito medo de te perder, também.

Monday

setembro


depois de um verão inesquecível, uma nova vida em cima de sapatos às bolinhas. o prazer esquecido de algumas velhas rotinas e o sabor desconhecido de novas experiências. entusiasmo, confiança, motivação, medo. e o verso que não consigo deixar de cantarolar, "hoje é o primeiro dia do resto da tua vida".

Wednesday

coimbra



um miradouro sobre a cidade. o sol que se punha à nossa frente. o anjo negro que dançava nas nossas costas. quatro pensamentos à deriva num silêncio tranquilo.

(foto retirada de http://florestas.wordpress.com/2007/04/)

Saturday

em repeat


Sometimes there's so much beauty in the world I feel like I can't take it, like my heart's going to cave in.

Friday

quase


Summer comes
With tacky souvenirs
Of all the stupid things we've done
Every year the heat defrosts these memories
I wonder where have you gone

We would stay until dusk came
We watched the sun until it was gone
Then winter came
You faded into rain and went away
Away

Summer comes
And takes me to those places
Where all the stories started at
I watch the sun as it slowly fades
Hoping it can bring you back

We would stay until dusk came
We watched the colours till they faded
Then winter came
You faded in the rain and went away
Away

Summer will bring you over
You will stay forever

Wednesday

gold dust


sights and sounds
pull me back down
another year

i was here

whipping past,
the reflecting pool,
me and you
skipping school.

but then we make it up
as we go along
we make it up as we go along.

you said -
you've raced from langley -
pulling me underneath
a cherry blossom canopy.
do i have,
of course i have,
beneath my raincoat,
i have your photographs.

and the sun on your face,
i'm freezing that frame.

and somewhere alfie cries
and says "enjoy his every smile
you can see in the dark
through the eyes of laura mars"

"how did it go so fast"
you'll say,
as we are looking back;
and then we'll understand
we held gold dust
in our hands.

Thursday

tardes de verão

as massagens da B. ao final da tarde. o calor que persistia. o relvado grande, verde, transformado na nossa segunda cama durante aqueles dias. o silêncio tranquilo e aceite por todos, esporadicamente interrompido por alguns suspiros. as cores da paisagem que mudavam a cada segundo que passava. a data da partida cada vez mais próxima, e que tornava tudo ainda mais especial. acima de tudo, uma grande amizade e a vontade de saborear o momento.

Tuesday

meio a brincar meio a sério


razões pelas quais nunca vou ser uma adulta capaz:

#1 todo o calçado que exclui sapatos e ténis faz-me bolhas nos pés;
#2 não sei usar maquilhagem: sempre que tento, não consigo deixar de me sentir um palhaço;
#3 prezo muito o furo que tenho no meio do lábio;
#4 não tenho meias, tenho peúgas (e a grande maioria destas tem um buraco no calcanhar);
#5 sou totalmente incapaz de manter o meu quarto arrumado por mais de 2 dias – o que dizer de uma casa inteira?
#6 não tenho paciência (nem arte) para cozinhar;
#7 considero que engomar a roupa é uma verdadeira perda de tempo;
#8 não me lembro da última vez que utilizei um pente;
#9 não tenho unhas nem me lembro de alguma vez as ter tido;
#10 tenho muita dificuldade em controlar o riso em situações constrangedoras;
#11 demoro muito tempo a associar os nomes às caras das pessoas;
#12 é-me muito difícil lidar com o fracasso;
#13 sou incapaz de passar uma semana sem perder um objecto (ou, pelo menos, de me esquecer de alguma coisa nalgum sítio);
#14 ainda como gomas compulsivamente, sem pensar no enjoo pelo qual vou necessariamente passar quando terminar o saco;
#15 há filmes/músicas/livros/situações que abalam a minha fé no amor – mas ela ainda existe.

while the city is busy sleeping


as horas vão passando e tu começas a sentir aquela inquietação outra vez. aquele desconforto que te assalta, todas as noites, uma após a outra. costumas inventar actividades que te preencham os minutos, as horas, adias até mais não poderes o momento do descanso. às vezes fumas um cigarro (às vez dois), outras vezes olhas para a televisão (mas não vês, não, não vês nada), outras vezes abres livros desinteressantes e aborrecidos que possam apressar os bocejos e o cair das pálpebras. mas nada do que faças (nada mesmo) consegue evitar o vazio que sentes ao cair na cama e apagar a luz. dás voltas e voltas, pegas no telemóvel, pões o despertador. dás outra volta na cama e tentas imobilizar o teu corpo. tentas pensar que te estás a transformar em pedra; primeiro os pés, depois as pernas, depois o tronco. foi o teu pai que te ensinou este estratagema, e não te lembras de alguma vez teres passado dos calcanhares enquanto eras criança. agora, chegas até à cabeça e continuas com os olhos bem abertos, com o espírito totalmente desperto. tic tac tic tac tic tac, o relógio não pára. dás mais uma volta na cama, acendes a luz. pensas que esta vai ser uma noite como as outras, só não consegues entender porquê.

Monday

prazeres amélie


#1 o arroz doce da minha avó;
#2 pessoas que dizem piadas idiotas;
#3 ver as árvores despidas no inverno;
#4 conduzir na marginal com o rádio a tocar bem alto;
#5 ouvir conversas banais de desconhecidos;
#6 comer morangos no dia seguinte;
#7 pisar as folha secas, caídas no chão, no fim do verão;
#8 deixar as tiras do meio das torradas para o fim;
#9 fazer compilações de músicas;
#10 entrar no depósito da biblioteca e inspirar o cheiro das revistas antigas;
#11 comer o chocolate do magnum primeiro e, só depois, a baunilha;
#12 ver um filme no cinema com a sala vazia;
#13 dançar sozinha no quarto;
#14 deambular pelas ruas de barcelona;
#15 o cheiro a relva cortada;
#16 escrever e decorar excertos de livros;
#17 abrir as revistas nas papelarias e inspirar o cheiro das páginas, novas e frescas;
#18 cortar o cabelo a mim própria;
#19 tocar em cera líquida e deixá-la solidificar nos meus dedos;
#20 fazer listas de coisas que gosto.

Wednesday

simple things


em cima de uma mota com o giovanni, numa estrada deserta algures em itália, com um pôr-do-sol nas costas. um cenário cliché, sem dúvida, mas uma sensação única.

Monday

se eu pudesse filmar os meus dias...


..gravava o meu regresso a casa hoje. o carro na marginal, o céu que ameçava começar a chorar, o mar prateado, a luz forte que aumentava o contraste dos corpos, a voz da emily haines bem alto na rádio, o pensamento que corria solto (como os cabelos ao sabor do vento), as primeiras pingas a cair no vidro, o não conseguir evitar um sorriso, o olhar tranquilo, a vontade de não chegar a lado nenhum e continuar o caminho, a pele arrepiada por causa da janela aberta, as gaivotas a pairar e a pousar na praia, e a voz doce que repetia doctor blind just prescribe the blue ones.

Thursday

palavras gastas


Há dias assim, em que a tua ausência pesa mais do que o meu próprio corpo, em que o eco dos teus passos soa mais alto que todo o caos da cidade, em que toda e qualquer palavra que ouço parece ter sido dita por ti, num sopro. São dias em que me confundo com as pedras da calçada, tão quietas, tão presas, tão sós. Não preciso abrir a boca para dizer o teu nome, estás em tudo aquilo que faço, vejo e ouço. És a confusão da multidão que me envolve e afasta, és o cheiro de algumas ruas, és as conversas de café, és as pessoas que correm e tropeçam, és a chuva que pinga sobre a cidade ou o sol que a beija...és o peso do mundo nos meus ombros, és as minhas costas corcundas, as minhas rugas vincadas. Dias assim não têm noite, são um prolongar eterno de uma luz que me mata aos poucos, ao ritmo do ponteiro mais fino do relógio.

Saturday

we might as well be strangers



detesto que já tenha que fazer um esforço para me lembrar de como era quando não conhecia a minha vida sem ti. quando tento trazer à memória alguns momentos passados contigo só consigo ver algumas imagens, despidas de sentimento. já não consigo sentir como era, percebes? sei que me fazias bem, que me tranquilizavas, que precisava de ti. mas e depois? consigo lembrar-me do teu sorriso quando eu entrava no teu carro..mas não do efeito que ele tinha em mim. sei que os abraços eram grandes, fortes e que nesses momentos me preenchias completamente. mas já não me lembro como era. lembro-me da nossa despedida, na minha sala, do silêncio esmagador, da falta de palavras, das (muitas) lágrimas, do não conseguir dizer adeus e virar as costas..mas e a angústia, como era, como a sentia? é como se estes anos se tivessem tornado numa simples fotografia. olho para ela, revejo tantas vezes os mesmos momentos, sei descrevê-los de cor, e as memórias congelam. já não consigo sair desses momentos, nem sequer sentir o que sentia. sei que olhavas para mim de uma forma especial, que não tinha vergonha de aparecer à tua frente desarranjada porque ainda assim me achavas bonita..lembro-me até que adorava o teu ar ensonado quando acordavas. e sei ainda que o que eu mais gostava era precisamente isso, acordar ao teu lado. mas o que é que eu sentia? lembro-me de algumas conversas ao telefone, no escuro, das confissões de amor trocadas entre lágrimas, de falar até adormecer. lembro-me que me tranquilizavas, mas não me lembro de que falávamos. lembro-me das tardes e noites naquele quarto despido, de conversarmos, durante horas, nus, com as pernas entrelaçadas. mas já não me lembro da sensação de não me querer separar do teu corpo, do calor que sentia com o teu toque, da tranquilidade que me invadia quando enrolava as pontas dos dedos nos teus cabelos. consigo visualizar a nossa conversa naquele café, consigo lembrar-me da tua expressão que se transfigurava enquanto as palavras saíam da minha boca, sei que saíste a correr sem dizer adeus e que eu fiquei. mas já não me lembro de sentir o peito a queimar, de não ter força nas pernas para me levantar, de sentir que os olhos estavam secos enquanto eu sangrava por dentro.
mas, se as lembranças estão lentamente a desaparecer, porque é que eu sinto que a saudade se torna cada vez mais esmagadora?

Thursday

the hardest part was letting go

[retalhos de uma vida]


A sala que aos poucos se tornou nossa, onde eu e o T. acabávamos as noites a comer bolachas-maria com leite e a comentar os acontecimentos, onde obrigávamos o P. a ver Ally McBeal a horas impróprias, onde nos despedimos das gurias, onde surgiu a primeira conversa com o D., onde todos os nossos amigos se sentaram nos inúmeros jantares que lá aconteceram. As refeições na varanda, o jantar a três com a E. e a E., os cozinhados da P., as discussões com o G., o delírio com o T. ao som dos Gorillaz..


A casa dos nossos vizinhos mais queridos. O bacalhau à Gomes Sá da A., a festa surpresa do L., as coreografias da M., as sessões de Ally McBeal com a A. e a M., as conversas sobre o turco. A chegada da C. e da E., novas amizades que começam a desabrochar, a partida do F., o início do fim.


Regressar da Sardenha e sentir-me em casa quando volto a ver a Praça da Catalunha. Despedir-me aqui do A. com um "hasta pronto!" gritado enquanto ele corria para apanhar o autocarro. A noite com o D., nestes bancos, a conversar até demasiado tarde sobre assuntos demasiado sensíveis.


A primeira saída com as primeiras pessoas que conheci nesta cidade. A constante sensação de possibilidade, de adrenalina, de que tudo pode mudar a qualquer altura. Sentir-me em erasmus e ser totalmente preenchida por essa realidade. As primeiras conversas com a E., o nascer de uma amizade.


A casa do M. O piano, o Buena Vista Social Club, a intimidade e carinho que cresciam de dia para dia. A noite na Plaza del Rey com uma cerveja, um músico e uma conversa. As saudades..


Deambular pela cidade e sentar-me a ouvir quem toca por detrás da catedral. Passear por aquelas ruas com a G. numa noite em que o coração estava apertado, e sermos surpreendidas por um saxofonista a tocar, sozinho, para ele próprio. Tentar não perturbar o seu momento e flutuar ao som da sua música..


Sair do trabalho e vir a pé para casa, evitando a multidão das ramblas e tentando sempre passar por ruas desconhecidas. Passar na padaria e comprar as melhores baguetes de Barcelona. Comê-las com doce de morango em casa, enquanto contava à P. as aventuras do meu dia e ela me mostrava os progressos do seu caderno. Decidir o que jantar e ir ao Dia fazer as compras de última hora.


Descobrir esta praça por puro acaso, numa tarde em que explorava o bairro gótico. Mostrá-la ao T. e à M. num dia em que se celebrava um casamento. Assistir à chegada da noiva, ficar registrado nas fotografias a nossa presença naquele dia tão importante para aquelas duas pessoas. Mostrar aquele sítio a todas as pessoas que me iam visitar. O dia em que fui com o M. e fomos recebidos por uma chuva de flores amarelas que caíam das árvores, enquanto o som da água da fonte ecoava naquela praça carregada de História.


O meu quarto. As várias mudanças até ficar ao meu gosto. As fotografias e lembranças que aos poucos tomaram conta das paredes. A surpresa que eles me prepararam na noite dos meus anos e que me arrancou as últimas lágrimas que tinha para chorar. A noite em que a G. foi lá dormir e em que a senti mais próxima que nunca.
O ter de arrumar tudo numa mala até deixar o quarto vazio. A primeira vez que vi lágrimas na cara do G., por também estar a desfazer o seu quarto. Sentar-me na cama e continuar a senti-lo meu, mesmo assim, despido.

Sunday

before sunrise


20 Julho 2006 - algures entre Liége e Paris.

Ontem foi mais um dia de sonho, nesta viagem de sonho. Acordei em casa do A. e tomámos o pequeno-almoço no seu quintal amoroso. Estivemos imenso tempo a conversar e depois chegou um amigo dele dos escuteiros que, segundo o A., é o típico belga: bem-disposto, extrovertido, diz piadas a toda a hora. De facto não pararam de rir durante a conversa, mas falavam a uma velocidade impressionante e eu não percebia rigorosamente nada.
À tarde fomos para Liége a pé, debaixo de um calor abrasador, para nos encontrarmos com duas amigas do A. numa esplanada do centro. Depois de muitas horas de conversa, com Português, Inglês, Espanhol e Francês à mistura, eu o A. fomos ao parque de Liége, mesmo ao lado do Meuse. Resolvemos deitar-nos na relva e ficámos a falar durante horas..o sol que se punha, o rio, a conversa, a despreocupação, a falta de horários..apenas a vontade de partilhar ideias sérias e tontas, pequenas confissões, histórias de infância..ele escreveu-me no braço, senti intimidade, jogos tontos de cócegas, fotos..
Quando demos por nós já eram 21h30 e já não tínhamos tempo de ir a casa. O vermelho do pôr-do-sol diluía-se no rio calmo e as nossas gargalhadas ecoavam por toda a cidade..como é possível que exista tanto à-vontade com tão pouco tempo de convivência! Seguimos o nosso deambular até encontramos uns amigos dele num bar onde costumam ir..é incrível estar dentro da vida dele, com o seu grupo de amigos. Trocámos piadas sobre o nosso mau-cheiro, a cerveja não parava de vir e começava a misturar os sentidos..esta condição de viajante preenche-me tanto, sentir que cada dia me traz "pequenos grandes" momentos, um pouco como quando estava em Barcelona. No final, custou-me despedir daquelas pessoas que tinha acabado de conhecer, mas que naquelas horas foram as mais importantes da minha vida. Voltei com o A. de táxi para casa e tomámos o duche tão desejado..
Rumámos ao quintal munidos de cigarros e cervejas de cereja. A estrela cadente marcou o início da conversa, numa noite que selou a nossa amizade para sempre..os temas sucediam-se naturalmente e nem o cansaço conseguiu vencer a vontade de aproveitar ao máximo a companhia um do outro. Ficará para sempre gravada na minha memória a imagem do perfil do A. marcado pela luz de uma vela, enquanto acende o cigarro e olha para o céu..

Saturday

Escalas do Levante


"Promessas de apaixonados, mas promessas mantidas, eu nunca beijei Clara, nem tomei a sua mão na minha, com um sentimento de coisa já vista, já feita, de caminho percorrido. De já amada. O amor pode permanecer intacto, e a emoção também. Mês após mês, ano após ano. A vida não é assim tão longa que nos possamos cansar."

Amin Maalouf