Friday

from self to myself


abrir os olhos transforma o sonho em realidade. assim se começa o dia com um verdadeiro soco no estômago, uma desilusão maior que eu e que não é fácil de digerir. hoje voltaste à minha mente, aos meus dias, de uma forma que julgava já ser impossível. hoje voltei a sentir a sombra daquilo que apenas acabou, o cheiro demasiado intenso da possibilidade que só eu vivi. é engraçado como consegues ter uma presença tão forte em mim quando não consigo recordar a tua voz, nem as expressões que fazes quando falas, nem a forma como soltas gargalhadas. recordo, sim, as tuas palavras; essas, sei-as de cor. também não esqueço a tua mão no meu peito, a forma como o calor que dela irradiava me queimava por dentro, não esqueço a despedida naquela madrugada, aquela despedida que me destroçou de uma forma que não poderás nunca imaginar. não esqueço a dor do dia seguinte, o estômago embrulhado, a cabeça pesada, os olhos inchados, a chuva de lágrimas. não esqueço a tranquilidade que um pôr-do-sol e um abraço me conseguiram transmitir.

(tento esquecer o que (não) fizeste depois.)

nunca foste presença, mas hoje a tua ausência doeu.


Sunday

re-incidências


e de repente, descobres o aconchego de uma casa em lisboa, perdida num terceiro andar de um prédio antigo, numa rua estreita e desconhecida. descobres as sombras que a luz da noite faz nas paredes de uma sala quase vazia, o som que sai de um piano tocado com mestria e paixão, a solidão de dois copos de vinho abandonados no meio do chão.

descobres o calor de um abraço forte e a serenidade de um espírito que se tornou seguro. desistes de procurar razões e apertas contra o peito aquilo que é o que é. há boganvílias na varanda estreita e o tejo a espreitar ao fundo.

despedes-te com um cheiro que já foi teu preso a ti.

o amanhã traz a descoberta dos passos que te levam de volta ao terceiro andar de uma rua que já conheces.

Saturday

central park