Thursday

palavras gastas


Há dias assim, em que a tua ausência pesa mais do que o meu próprio corpo, em que o eco dos teus passos soa mais alto que todo o caos da cidade, em que toda e qualquer palavra que ouço parece ter sido dita por ti, num sopro. São dias em que me confundo com as pedras da calçada, tão quietas, tão presas, tão sós. Não preciso abrir a boca para dizer o teu nome, estás em tudo aquilo que faço, vejo e ouço. És a confusão da multidão que me envolve e afasta, és o cheiro de algumas ruas, és as conversas de café, és as pessoas que correm e tropeçam, és a chuva que pinga sobre a cidade ou o sol que a beija...és o peso do mundo nos meus ombros, és as minhas costas corcundas, as minhas rugas vincadas. Dias assim não têm noite, são um prolongar eterno de uma luz que me mata aos poucos, ao ritmo do ponteiro mais fino do relógio.

4 comments:

Anonymous said...

muito bonito.

jorge

rita maria josefina said...

Olá Leonor!
Vim agradecer o teu simpático comentário no Ervilhaz.
Já reparei no titulo do teu blog... e voltando ao que já disse (em resposta ao teu comentário no ervilhaz), o ultimo verso do poema, acaba por ser o titulo da vida de qualquer pessoa. Todos nós, em determinada altura das nossas vidas, queremos acreditar ser aquilo que nunca podemos ser. i think...
Belo blog by the way!
Bom fim de semana
:)

tiago said...

esse post dói. desencantadamente urbano. chuva, cimento e gabardinas apertadas.

xixicocó said...

bonito blog, em geral.

bonito post, em particular